Descubra como sua organização pode inovar com segurança, reduzindo custos e riscos, ao adotar o blockchain privado permissionado.
Minha jornada no desenvolvimento de software começou em um tempo onde a internet era apenas um conceito distante. As aplicações viviam confinadas, executadas localmente em computadores isolados ou em ambientes cliente-servidor, restritas às redes internas das empresas.
Os anos 70/80 registraram o nascimento e ascenção de muitas redes de computadores como a Ethernet 10Base2 e 10Base5 que implementava o hardware onde operavam redes como a Novell, por exemplo. Havia a Token Ring (a tecnologia da IBM), a ARCNET, a AppleTalk (o ecossistema de rede da Apple), também as redes baseadas em mainframe e minicomputadores como a SNA (Systems Network Architecture) da IBM e a DECnet da DEC (Digital Equipment Corporation). Havia também a X.25 (as Redes Públicas de Pacotes), mas internet como conhecemos, não existia.
Nessa época eu trabalhava em uma empresa em Brasília onde, entre outras tarefas, implementávamos rede Novell em microcomputadores rodando o DOS ou Windows 3.11, por intermédio de arquivos de configuração em disquetes. O linux nem existia nessa época, as redes com microcomputadores baseadas em UNIX eu aplicava usando o QNX. O que foi? Nunca ouviu falar disso? Fui longe demais no passado? Calma, já vamos entrar no assunto sobre a rede blockchain.
Então, nos primeiros anos da década de 1990, a Web 1.0 emergiu. Nascia a internet, a rede das redes, abrindo um novo horizonte. Eram páginas estáticas, um vasto catálogo de informações para visualização, mas com pouca interação com o internauta. Logo em seguida, fomos imersos na Web 2.0, a internet que conhecemos e usamos hoje, com um ambiente vibrante de colaboração, onde usuários interagem, participam de redes sociais, preenchem cadastros, realizam compras, transações, e moldam o próprio conteúdo (atualmente com bastante fake news 😀).
Agora, a próxima grande onda está se formando. A Web 3.0, com seus pilares de descentralização, autonomia e transparência. Não é apenas uma evolução. A Web3 representa uma revolução na forma como as organizações operam, se conectam e gerenciam dados. Lançado com o Bitcoin por volta do ano de 2009, o blockchain ficou disponível para o público e para as empresas. Contudo, para muitas organizações, mergulhar de cabeça em um ambiente completamente público e descentralizado pode ser um passo ambicioso, carregado de riscos técnicos e desafios culturais e financeiros. É uma transição que pede estratégia.
É por isso que o blockchain privado, permissionado e controlado, surge como uma ponte estratégica entre o mundo corporativo tradicional e o universo Web3. Ele permite uma imersão gradual e segura, sem abrir mão da inovação.
O blockchain é uma das tecnologias mais transformadoras do nosso tempo. Originalmente associado ao surgimento das criptomoedas, a tecnologia evoluiu para muito além disso, oferecendo aplicações robustas para empresas, governos e organizações que buscam transparência, segurança e rastreabilidade em suas operações.
Mas afinal, o que é exatamente uma rede blockchain? E do que ela é composta?
Pense no blockchain como uma rede digital super inteligente e à prova de falhas para registrar qualquer tipo de informação importante. Em vez de depender de um único computador ou empresa para guardar esses dados, o blockchain distribui o registro por milhares de computadores diferentes no mundo todo.
Quando uma nova informação é adicionada, seja uma transação, um contrato, um registro de produto, ou a identidade digital de alguém, essa informação não vai para um único lugar. Ela é validada por uma rede de computadores independentes e, uma vez confirmada, é gravada em um "bloco" digital. Esse bloco é então permanentemente anexado a uma corrente (a "chain") de blocos anteriores, formando um histórico que não pode ser alterado nem apagado.
O blockchain é a tecnologia que nos permite criar registros digitais que são verdadeiramente confiáveis, transparentes e seguros, sem a necessidade de um intermediário central. É uma base para uma nova era de colaboração e de negócios digitais.
Ao contrário de bancos de dados centralizados, o blockchain opera por meio de uma rede de nós (nodes), ou seja, rede de computadores que mantêm uma cópia sincronizada do registro da informação e participam do processo de validação e consenso.
Blocos
Cada bloco contém um conjunto de transações, um carimbo de tempo (timestamp) e uma referência ao bloco anterior.
Esses elementos garantem a integridade e a continuidade da cadeia.
Transações
Representam qualquer tipo de informação registrada na rede blockchain: uma transferência de valor, um contrato inteligente executado, ou até um documento autenticado.
São validadas antes de serem incluídas nos blocos.
Nós
São os computadores que compõem a rede blockchain.
Podem ser nós validadores (que participam do consenso), nós de leitura (que apenas acessam dados) ou nós de armazenamento.
Em blockchains públicas, qualquer pessoa pode se tornar um nó. Em blockchains privadas, o acesso é controlado.
Mecanismo de Consenso
É o protocolo que permite aos nós concordarem sobre o estado atual da blockchain.
Exemplos: Proof of Work (PoW), Proof of Stake (PoS), e mecanismos de consenso tolerantes a falhas bizantinas (BFT), comuns em blockchains permissionadas.
Contratos Inteligentes (Smart Contracts)
São programas autoexecutáveis que rodam na blockchain.
Esses programas executam regras automaticamente quando condições pré-definidas são atendidas, eliminando intermediários e aumentando a eficiência.
Criptografia
Garante a segurança dos dados e das identidades na rede.
As transações são assinadas digitalmente e os dados são protegidos com algoritmos de hash e criptografia assimétrica. Um exemplo do que é criptografia: a palavra "Proprietário" será armazenada como 0e7136c1e55047b31c9a4448206d2890983a48e77c570b240165c400465593c6.
Ledger Distribuído
O registro compartilhado entre todos os nós da rede.
Todos os participantes possuem uma cópia sincronizada, garantindo transparência e resiliência.
A forma como descrevi o blockchain até agora, foca na sua essência de criar confiança em redes abertas e distribuídas. No entanto, nem todas as inovações ou negócios precisam de um modelo totalmente público e acessível a qualquer um.
Imagine que você precisa de toda a segurança, imutabilidade e auditabilidade do blockchain, mas dentro de um ambiente mais controlado, talvez com parceiros de negócio, clientes ou fornecedores específicos. Em outras palavras: você quer usar a tecnologia do blockchain em soluções corporativas na sua organização, como se fosse uma rede local. É exatamente aqui que entram os blockchains privados e permissionados.
Nesse tipo de blockchain, a rede e os participantes são previamente autorizados. Isso significa que, sim, os registros podem estar distribuídos entre alguns poucos nós gerenciados por entidades de confiança (seus parceiros de negócio, por exemplo), ou até mesmo concentrados em um único ponto ou em alguns poucos pontos centrais da sua organização, se a aplicação assim exigir. O ponto chave é que você mantém o controle sobre quem participa e quem vê as informações, sem perder a integridade e a segurança que fazem do blockchain uma tecnologia tão revolucionária.
Público: qualquer pessoa pode participar da rede e validar transações (como Bitcoin e Ethereum).
Privado: a rede é controlada por uma organização ou consórcio. Apenas participantes autorizados têm acesso.
Permissionado: combinação das duas. A rede pode ser pública ou privada, mas com acesso e funções definidos por permissões específicas.
Empresas que se aventuram diretamente em blockchains públicas enfrentam uma série de obstáculos:
Custos imprevisíveis de gas: Cada operação na blockchain pública exige pagamento de taxas (gas fees), que variam de acordo com a demanda da rede e as transações que estão sendo executadas.
Complexidade no desenvolvimento de contratos inteligentes: Exige times especializados, metodologias robustas e alto nível de segurança (já que tudo é público e está amplamente visível na rede para todos).
Risco de vulnerabilidades: Erros em contratos inteligentes podem ser explorados, levando à perda de ativos ou dados , muitas vezes de forma irreversível.
Auditorias obrigatórias: O rigor da Web3 exige testes exaustivos, revisão de código e auditorias independentes antes de entrar em produção.
Imutabilidade como espada de dois gumes: O que é implantado, se mal feito, não pode ser facilmente corrigido.
Governança comunitária descentralizada: Nem toda organização está pronta para abrir mão do controle centralizado ou dialogar com uma comunidade global.
Ao escolher começar com um blockchain permissionado e controlado, sua empresa ganha um laboratório seguro e adaptável para explorar a Web3 sem os riscos já descritos. Essa abordagem permite:
Executar transações reais sem custos de gas.
Controlar o acesso e os nós participantes, mantendo segurança e compliance.
Familiarizar equipes técnicas e de negócios com os conceitos e ferramentas Web3.
Desenvolver, testar e refinar contratos inteligentes com total governança interna.
Estabelecer políticas de auditoria e gestão de risco antes de abrir o ecossistema.
Adotar a Web3 pode, e deve, ser uma jornada evolutiva:
Fase 1: Blockchain privado e permissionado
Desenvolvimento interno, testes com casos de uso reais, validação de segurança, aculturação das equipes.
Fase 2: Simulação de migração para blockchain pública
Entendimento técnico dos requisitos, adaptação de contratos, simulação de gas fees e modelagem de governança.
Fase 3: Implantação em rede pública
Com maturidade adquirida, a organização está pronta para operar em um ambiente público, com riscos conhecidos e mitigados.
Mas lembre-se: sua aplicação só é tornada pública se assim você desejar. Se for uma solução corporativa interna à sua organização, sua solução com blockchain pode continuar privado e permissionado.
Empresas que desejam inovação real e sustentável não precisam escolher entre o antigo e o novo, pois podem transitar com sabedoria entre os dois mundos. Ao adotar o blockchain privado como primeira etapa, sua organização assume o controle da própria transformação, evita armadilhas do hype e prepara o terreno para uma adoção consciente, ética e eficiente da Web3 pública descentralizada.
O futuro da Web está na descentralização , mas o caminho pode (e deve) começar por onde sua empresa está hoje.
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